PANO TERRITÓRIO é um trabalho com resultado artístico que, apesar da sutileza e bela aparência, trata de camadas profundas de questionamento, buscando apresentar uma narrativa subjetiva do imaginário social e cultural brasileiro. Trata-se de uma homenagem à beleza da forma arquitetônica a partir da qualidade simbólica de seus projetos e plantas . Esses desenhos operam aqui como índices, anúncios de um porvir, projeto materializado no traço e que depois desaparece na obra por deixarmos de vê-los. Também pretende dizer sobre histórias invisíveis do nosso país - ou sobre como elas nos trouxeram até aqui. Projetá-las em matéria palpável ajuda a dar corpo e estabelecer um rastro do que foi vivido. Linha do tempo, dados importantes, pessoas, projetos do passado que deixaram marcas eternas. Linha branca sobre tecido branco bordando trajetos emocionais por onde nossa imaginação é conduzida.
As peças, que chamamos de PANO TERRITÓRIO, podem compor um enxoval doméstico clássico ou igualmente cobiçam o lugar do não-utilitário, do contemplativo e da fruição.
Nosso processo de criação começa inspirado pelas palavras: tempo, memória, lugar, território, cidade, narrativa, padrão, repetição, contraste, textura, sobreposição. Destacamos esse conjunto de referências e associamos ao nosso repertório dos fazeres cotidianos e modos de morar, aos objetos da casa, à nossa atenção ao espaço arquitetônico e à curiosidade com a história das cidades e suas gentes.
O morim, tecido de algodão branco, trama aberta e pouco nobre, foi escolhido como suporte para receber os desenhos em bordado mecânico. Tem inspiração nos bordados de enxovais antigos, feitos tradicionalmente à mão de forma muito refinada - linha branca sobre tecido nobre branco - porém, a escolha do material e o processo mecanizado da estampa alude à etapa de estudo, pesquisa, tecnologias e linguagens contemporâneas.
As plantas e desenhos técnicos trazem delineamentos de base e estrutura invisível dos objetos de pesquisa escolhidos para serem uma síntese do que se refere à memória e seu efeito nos modos de viver e ocupar as cidades.
Esta edição especial do PANO TERRITÓRIO para a coleção Grão, de Apartamento03, a convite de Luiz Claudio Silva, traz um breve inventário sígnico que traça uma linha narrativa acerca do ciclo do café no Brasil. Começando pela planta de um navio tumbeiro, nome dado às embarcações que traziam as pessoas sequestradas na África para serem escravizadas no Brasil (e recebiam esse nome porque grande parte dos negros, amontoados nos porões, morriam durante a viagem). Passa depois pelas tradicionais fazendas de café do Vale do Paraíba paulista e chega, enfim, às casas da região dos Campos Elíseos em São Paulo, bairro projetado para receber a elite cafeeira que enriqueceu às custas de trabalho de mãos pretas e segue até hoje se beneficiando disso.
Esse trabalho trata de preservação do patrimônio cultural e beleza, mas também de questionamentos sobre quais são as pessoas, histórias, formas, estética, monumentos e até mesmo ideias de progresso, luxo e riqueza que de fato merecem homenagem.
AGRADECIMENTOS:
Jeciara Ribeiro (bordados), Ana Barros (desenhos arquitetônicos)
"O café é nosso ouro negro. Na construção dessa coleção, lembrei do ‘PANO TERRITÓRIO’ de @luisaluz e @dane.luz, bordados de plantas de casas e suas histórias, que, transformados em narrativas sobre a chegada do café no Brasil, se tornam mapas de riqueza e exploração. Ao resgatar essas memórias, celebramos as mãos que pavimentaram os caminhos, transformando o grão em símbolo de resistência e força. Esta coleção é um tributo à ancestralidade que nos trouxe até aqui." – Luiz Cláudio
@luiz_ap03 é curioso, antropólogo de suas causas e gentes, necessário na moda costurando cada botão com intenção, questionamento e presença. As conversas com ele são leves e cheias de referências importantes, daquilo (e daqueles) que realmente importa, um curador de boas histórias a partir de qualquer isca importante, nunca vazia.
Café. Nada é tão simples que não possa ser questionado, transformado.
Grão.
Um PANO TERRITÓRIO que nos convidou a mergulhos profundos, seja pelas páginas do livro "Barões e Escravos do Café", trocando refências pelo WhatsApp, escutando @el_efecto e lendo as letras durante um almoço, imersão no podcast 'projeto Querino' do @tiagorogero, nos trabalhos do @andrevargassantos, @deriandrade_ @projeto.afro
Pronto.
Não é mais possível que se viva no raso depois de tanta informação imprescindível, urgente.
Fundo.
Obrigada Luiz pelo convite e por nos levar para esse mergulho inesquecível. O resultado final é só a ponta do iceberg.
#Grão ________ 🌱
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18.10.24 - 14:30 h - SP
@spfw Estamparia: @paulo_andre_ferreira_
Styling: @danielueda1
Acessórios: @carlospenna.design
Bolsas: @ojambu_bags
Sapatos: @virginiabarrosoficial
fotos do desfile: @romidiazphotographer
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